segunda-feira, janeiro 24, 2005


Rafael Moirai
Original

12 graus

12 graus,
estava frio,
uma névoa húmida
cobria o céu,
ainda não vira o sol nessa manhã,
mas sabia que ele estava lá,
algures,
pois uma luz branca espectral
fluia no meu curto campo de visão.
Estava um daqueles dias
em que a vontade não é muito ambiciosa,
uma poltrona de orelhas,
uma manta,
uma lareira com lume
e todo o silencio do mundo.

(Data desconhecida)

domingo, janeiro 23, 2005


Rafael Moirai
Original

Aragem

Sinto-a abraçar-me
as suas mãos pequenas
percorrem-me a pele nua
o prazer segue-se
o momento de paixão que antes parou o tempo
torna-se um instante
as promessas perderam-se
o arrepio sobrepôs-se a tudo
esse orgasmo cerebral culminou
o prazer
a aragem passou
não sei se voltará, ou quando voltará
mas a sua breve recordação
ninguém ma tirará
pois não se pode partilhar.
Sou um ser egoísticamente egoísta.

(Data desconhecida)

A chuva caí
está frio
as gotas impregnam-se na roupa
o corpo já está húmido
o vento passa
o corpo arrepia-se
as gotas sucedem-se
as poças acumulam-se
estou triste
não sei o que faço
escorrego
caiu no chão
não me consigo levantar
fico para ali
adormeço esperando o Sol me acordar.

(Data desconhecida)

Pensamento

Não sei em que pensas
mas gostaria de saber
que um dia dedicaste um segundo
a pensar em mim
pois ao menos durante um segundo
fui parte de ti
já que da eternidade
contento-me com um segundo
num teu pensamento
algo tão elevado
que a tudo abdicaria
excepto a ser por um segundo
parte de ti.

(Data desconhecida)

Viajo

Viajo!
vou longe, fujo
tento nascer
não consigo.
Volto!
Nunca parti,
desespero
definho lentamente
com cada segundo de vida.
quanto mais vivo mais morro...
Grito, nem eu oiço,
já não há ar,
as cordas não vibram,
não importa
cheguei ao fim.
Volto à terra !!

(Data desconhecida)

sábado, janeiro 22, 2005


Rafael Moirai
Original

Acordar

Ainda o despertar não era completo,
o engodo quente e protector dos lençóis,
ainda surtia o seu efeito,
quando a luz prenunciadora de um novo dia o encontrou.
Os primeiros raios tibuteantes já se tinham por
prenúncios da ferocidade de um dia de 40º.
Aquele instante entre o acordar,
com todos os movimentos a isso associado,
e o despertar que o precedeu,
será talvez a sensação mais alienante que nos é dada conhecer,
enquanto ser colectivo,
pois entre tão perto da perfeição em que nos encontramos,
mas que sabemos,
que não se eternizara mais do que,
o tempo de decisão em si,
e o arriscar pelo desconhecido de um dia novo,
raras vezes não cedemos a esse desconhecido.

(Data desconhecida)

O dia chegou em mim

Hoje o dia chegou em mim.
O levantar sincronizado com a luz,
não teve relação com as idas jornadas.

Hoje não sinto o sangue correr em mim
o corpo locomove-se por pura necessidade
e não com vista a um objectivo em si
sinto-me feito de ectoplasma.

Não sei, nem nunca quis saber
qual o travo que a morte teria
mas tenho em mim que não longe andará
do que hoje sinto,
do que hoje me tornei.

A sombra que me persegue
não é minha,
a figura que se espelha à passagem
não a reconheço

e se voz se pode chamar
a esse guturral e cavernoso som
que de mim parece provir

nem minhas parecem as ideias,
que ela parece propagar.

Se o amanhã a hoje se assimilar
já cá não devo estar.

Pois hoje o dia chegou em mim...

(19/01/2005)

Tenho para mim

Tenho para mim
que a razão do Sol todos os dias surgir
se deve a Ti.

Que antes de Ti
o mundo era trevas e sombras,
que a luz só por Ti
e para Ti
resolveu dar o seu ar de si.

Tenho para mim
que se hoje chover
é para amanhã
os campos florirem para Ti.


(19/01/2005)
Já nada peço,
só paz,
sossego.
Um limbo que me envolva,
donde nunca saía.
Só esse estágio de não existência
me satisfaria.
O nada fazer,
nada pensar,
nada sentir
são o ideal mais alto por mim ambicionado.

(Data desconhecida)

sexta-feira, janeiro 21, 2005


Rafael Moirai
Original

Terra e Lua

Sinto em mim a rotação
que Terra e Lua parecem ter

sinto-os próximos, quando se parecem afastar
e longe quando perto se encontram

Em mim,
parecem encontrar
esse lugar
em que se podem enfrentar

E por mim,
parecem expressar
tudo o que entre eles
se dirá.

Tenho-me por privilegiado
por nesta relação participar.

Mas um dia,
ainda hei-de tentar
a Terra toda parar.
Para que Lua e Terra
por fim
possam para sempre se amar.

(19/01/2005)

Suaves são as penas do Inferno
a quem na vida amou
a quem a ti te encontrou.

Por mim tudo pode ser
nada tem mais significado,
esta embriaguez
que seja pecado
que os aromas teus
sejam acido sulfuroso
e o sofrimento teu
sangue de mim escorra

As nuvens da tormenta
já não me afligem
chegou o momento.
Nada mais importa.
luz distendida
na superfície ligeiramente polida
de um charco recente

da vida à existência
um ignorante tudo tenta
pois a inacção
traz-lhe aos sentidos
os ténues eflúvios da sorte madrasta
que nunca distingue
os mortos dos defuntos de vida
que só na terra húmida e pesada
iguais eles ficam perpetuamente

(Data desconhecida)

Existência

A morte ignora-o
passa-lhe ao lado
em lentos toques de tambor
anunciando uma luminescência bruxuleante
sempre ignorando-o
mas é na sua não existência
que ele se tenta guardar

pois um dia
de manto escuro feito
acordara com crepitar
com o cheiro doce da gordura
o calor do fogo
e deixara o espaço que ocupa
sem nunca o ter ocupado
sob as labaredas em cinzas restara
uma chama um litro de gasolina
um homem embrulhado nas edições matutinas da véspera
uma existência fugaz
em notícia de rodapé do jornal de amanhã...

(Data desconhecida)

Vaguear

Perdido procuro encontro
sozinho os lúmens da alvorada
indicam o fim e o começo
atravesso parado o movimento perpetuo das águas

o lugar da minha chegada é meu
já lá estou, sempre lá estive
Não!
ele sempre esteve comigo
não me abandonou
a geração anacrónica que a vida
acaba por ser, ordena muito do que procuramos
e envolve-nos numa névoa de carne
depois ouve-se o estampido
e começa a procura
vagueiam-se espaços
milhas de imagens passam por nós
até que nuvens negras de tempestade
se metamorfoseiam
em larvas
e vemos, sentimos, somos
Afinal era tudo tão mais fácil!
Somos!

(Data desconhecida)

quinta-feira, janeiro 20, 2005


Rafael Moirai
Original

Perder

Vida esfiada pelo passar do tempo
dentes gastos do uso
isolamento capilar
palavras trocadas em voz cansada.
Os dias que sucederam ao seu acordar
estavam a vence-lo.

Mas algo lhe dava gozo
se os ignorasse
se tudo desconhecesse
nada mais teria a perder.

Mas ele tentara vencer
ele tentara à noite
após a dura jornada diária
lutar por tudo saber.

Para mesmo que perdesse,
ou menos soubesse o que perdia...


(Data desconhecida)

Sem nome

Perdido em pétalas
descanso em corolas
procuro insectos dorminhocos
que me façam rir
leio no vento
o tempo que há-de fazer
e no entanto sou surpreendido
por bátegas, violentas
que me fazem viajar
violentamente
como que se acossado por lobos
me deixa-se arrastar
até que eles
me esventrassem e abandona-sem
como uma alma esvoaçante
livre, a pulular em direcção à luz

(Data desconhecida)

Silêncios

Pedra a pedra,
foste construindo
esse teu muro de silêncio
com os teus vazios de som.

Os teus silêncios,
vão-me atormentando
como se de mosquitos vampíricos se tratasse.
Que me quisessem sugar
toda a esperança
que ainda me corre nas veias,
correndo o risco de extinção.

E é por isso
que eu te imploro ajoelhado:

...Grita ...

A ti Sol

A ti Sol agradeço
a ti Sol me prostro na mais singela das homenagens
pois para ti, o sumptuoso
nada representa.

Ó Astro Celeste,
te imploro,
... não me esqueceis.

Que o teu intemporal reinado,
seja pontuado
pelas mais sublimes glórias.
Que todo o teu Ser resplandeça,
que os teus raios
coroem de gloria
o que os teus servos
a ti consagram.

Sonho

No céu passam nuvens
que a nossa imaginação transfigura,
em monstros e princesas,
em dragões e leões
que vagueiam no céu azul.

De quando em quando
um bando de pássaros passa
e com eles os nossos sonhos
vão seguindo,
percorrendo os céus,
libertando-se da nossa visão terrena
e ganhando essa dimensão celeste
que só os seres alados possuem
tornando-se, tudo, tão perfeito
que à terra nos custa voltar.

quarta-feira, janeiro 19, 2005


Rafael moirai
Original

Tormentoso

Vi a furia nos teus olhos,
senti a raiva dos teus dentes nos meus dedos.
Sofri o peso da teu desprezo dentro de mim.

Mas mais que tudo isto,
a tua ausência
aquela eternidade que foi a minha vida
quando tu para mim não tinhas existência,
foi esse o período mais doloroso na minha vida,
e só agora consciência disso tenho.

De ti eu não quero só as primaveras da vida,
quero os teus outonos e invernos também.

Pois embora do mar calmo de verão,
se criem momentos inesquecíveis,
nada é mais intemporal
do que aquilo que
resulta da sobrevivência a uma
tormenta.

Costas Largas

Em Deus,
por Deus
e com Deus ...
alguns gostam de afirmar.
Para depois justificar,
tudo aquilo em que não querem pensar!

Passáro Negro

O passáro negro, meu vizinho
vem com a aurora me saudar
deseja-me:
"Santo e feliz dia."
no seu suave chilrear.

Mas mal as trevas da noite
me tentam abraçar,
ele volta sempre, para me avisar:
"A morte ainda há-de-te apanhar."

Õpostos

Tenho para mim,
que, se os opostos,
nada mais fossem,
que nomes diferentes,
para o mesmo;
o amor e o ódio
teriam o mesmo espaço em mim.

Agora, algo que ainda não sei,
é se ao dizer que te amo,
te estarei já a odiar
como se me estivesses já a deixar.